sexta-feira, 20 de abril de 2012

As coisas como elas são...

Estou para escrever isto desde quarta-feira, entretanto, "o dia-a-dia do mundo moderno" me impediu até o momento.

Vamos lá.

O título do post reflete meu pensamento acerca do que venho testemunhando como professor nos últimos anos, especilamente na rede pública.

E o que tenho visto? Bem, várias coisas. Tenho também pensado muito e chegado a conclusões, isto é, a definições das coisas como elas são.

Tentarei ser bem sintético nas ideias (e falharei), pois elas ganharam melhor forma depois dos acontecimentos de quarta-feira, numa das escolas que leciono.

Primeiramente, uma resposta sobre o que, afinal, aconteceu quarta-feira. Após eu chegar TRÊS MALDITOS MINUTOS ATRASADOS, fui impedido de entrar em sala de aula, já que a coordenação achou por bem que estes 3 minutos eram suficientes para impedir que um 3o. ano do Ensino Médio perdesse minha primeira aula. Detalhe: eles precisavam e QUERIAM minha aula.

Após esta presepada, saí da unidade para tomar um café-da-manhã e refrescar a cabeça. Mas eis que sou surpreendido pelo que? Hã? Um monte de alunos QUERENDO assistir aula (coisa raríssima, diga-se) e sendo impedidos pela direção da escola. Coisa bacana né?

Tudo bem que realmente estavam uns 5 minutos atrasados mas, levando em conta a distância que a maioria dos alunos moram da escola, sempre me pareceu uma rigidez meio boba impedir que alunos que queiram entrar na escola o façam por causa de 10 minutos.

Mas, o que mais me chamou a atenção, foi o caso de uma aluna em específico. Uma aluna excelente, uma pessoa rara, daquelas que devemos sempre estimular para que jamais caia no mar de mediocridade que insiste em banhar nossa sociedade. Ela estava, digamos, muito disposta em assistir as aulas e em fazer minha prova naquele dia (prova que foi, evidentemente, cancelada), mas foi impedida pela direção.

Ela, que não é uma pessoa qualquer, foi tratada de qualquer jeito. Não adiantou eu me manifestar diante da segunda injustiça absurda que presenciava no dia, nem a manifestação de um colega . Nada foi suficiente para que permitissem que aquela aluna entrasse e assistisse as drogas das aulas.

Enfim, é por essas e outras infâmias que presencio nas escolas por que passo, que relato o seguinte (notem POR FAVOR que faço uma grosseira generalização, visto que há sempre exceções - que abordarei mais adiante):

1- Ninguém está aí para a educação. Exceto um ou outro professor, um ou outro gestor, um ou outro aluno. Os interssados são exceção; os malditos desinterssados, a regra. Nas escolas, o importante é "manter o aluno na sala". Ensinar e/ou aprender são meros cacos de possibilidade, mas que ninguém espera seriamente que aconteça.

2- O poder público está de brincadeira (governadores, prefeitos e secretários de educção), e é o grande motor de nossa tragédia. Pagando salários rídiculos e oferecendo uma estrutura ridícula, exige um desempenho super-humano. São fracassados e fracassadas com uma caneta na mão e merda na cabeça.

3- Os alunos são estúpidos e ignorantes. Pequenos e grandes boçais ansiosos por passar a vida em branco, integrando as engrenagens do sistema, sendo mais um tijolo no muro. Qualquer possibilidade de mudança, de evolução, é violenta e sistematicamente rechaçada.

4- Os professores são fracos, na política e no caráter. Preferem ser vítimas do sistema do que se esforçarem (até sacrificarem) para alterá-lo. Relutam em assumir seu papel de intelectualidade do país, de guardiões reprodutores do conhecimento que a civilização precisa. Aceitam maus tratos de todos em troca de um salário de fome e de um processo de progressivo enfraquecimento. Os professores são mais fracos hoje do que ontem, e serão mais fracos amanhã do que hoje. Diria também que há um poderoso processo de emburrecimento da classe docente, mas isso eu falo outra hora...

5- E os gestores... bem, os gestores (direção e coordenação), são professores que se acham no dever de seguir, como vacas de presépio, todas as ordens (incluindo as mais malucas) impostas pelo poder público. São contraditoriamente os mais fortes (na hierarquia da escola) e os mais fracos (para mim, sob qualquer outros aspectos)

Sendo assim, constatando o desinteresse e a fraqueza generalizadas, declaro a falência total do sistema, a "Perda Total" da escola pública. E não me venham com as sempre excelentes exceções, por favor. Essas santas almas que brilham, ali, sozinhas no meio das trevas, e que nos iludem de que essas trevas um dia serão luz. Não serão! Ao menos não se nada for alterado. (E acreditem: as coisas não serão alteradas, afinal quase ninguém quer isso realmente).

Aliás a estas raridades, deixo minhas sinceras condolências pelas oportunidades que não são dadas a elas, e pelo simulacro de ensino que oferecemos.

...

Ufa... está dito.

F. A. E. - Outono de 2012 (sempre quis assinar algo assim ,com as iniciais... rsrs)

Ps: isso é o que eu penso dos Ensinos Fundamental e Médio, e não do Superior. Mas, infelizmente, no Superior também as coisas não vão bem...

4 comentários:

  1. Parabéns pelas palavras, mas principalmente, pela sinceridade na Mentirolândia que é este país... Descobrimento de mentira, libertação de mentira, república de mentira, constituição de mentira, saúde de mentira, justiça de mentira, educação de mentira, ciência de mentira, instituições de mentira, políticos de mentira.... aii cansei...

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    1. Obrigado... afinal, está dia-adia mais difícil viver (ou falar verdades) na Mentirolândia...

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  2. Pois é professor, enquanto tem gente desinteressada nas aulas, os alunos que queriam e precisavam entrar estavam sendo tratados como delinquentes que se atrasaram por preguiça.
    O que mais me irritou, foram os diretores que não se deram o trabalho de perguntar o que aconteceu, muito menos procuraram saber que a maioria dos alunos moram na mesma região, pegam o mesmo ônibus e naquele dia a av. Aricanduva estava em obras (a causa do atraso).
    Enfim, só tenho a agradecer todos os professores (inclusive você) que foram tentar ajudar. E foi realmente uma pena ter perdido as melhores aulas da semana.

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    1. Que isso Beatriz... estamos aqui pra isso".
      Pior é ver, como hoje vimos, "que a história se repete e a força deixa a História mal contada..."

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