A geografia da pobreza
Onde vivem as pessoas pobres do mundo? A resposta óbvia é:
nos países pobres. No entanto, em uma série recente de artigos, Andy
Sumner, do Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Grã-Bretanha,
revelou que a resposta óbvia está errada. Ele constatou que quatro
quintos daqueles que sobrevivem com menos de US$ 2 por dia moram em
países de renda média com um PIB per capita entre US$ 1.000 e US$
12.500, os quais não são pobres. Os seus achados refletem o fato de que
um período longo de crescimento econômico desigual fez com que muitos
países em desenvolvimento se tornassem países de renda média, ainda que
uma parte menor de sua população tenha permanecido atolada na pobreza.
Uma vez que os países envolvidos incluem a China e a Índia, até mesmo
uma minoria constitui uma quantidade grande de pessoas. Isso é
importante porque os países de renda média têm recursos o suficiente
para ajudar aos seus pobres. Se a maior parte da questão da pobreza se
limita às suas fronteiras, então a ajuda humanitária estrangeira é menos
relevante para a redução da pobreza. Um modo mais eficaz de ajudar
seria tornar as políticas públicas dos países de renda média mais
“pró-pobres”.
Agora o argumento de Sumner enfrenta um desafio. De acordo com Homi Kharas da Brookings Institution e Andrew Rogerson de Instituto de Desenvolvimento Estrangeiro da Grã-Bretanha, “em 2025, a maior parte da pobreza absoluta mais uma vez se concentrará em países de renda baixa”. Eles afirmam que, à medida que os países de renda média continuem a progredir contra a pobreza, a incidência desta diminuirá nestes países. Todavia, o número de pessoas pobres está aumentando em estados “frágeis”, os quais são definidos pelos autores do estudo como países que não podem atender às expectativas de suas populações ou administrá-las através do processo político (o que soa como algumas nações europeias). O padrão que Sumner descreve, afirmam, se trata de uma fase passageira.
Kharas e Rogerson calculam que o número de pobres em estados “não frágeis” caiu de quase 2 bilhões em 1990 para cerca de 500 milhões hoje em dia; eles acham que esse número continuará a cair para cerca de 200 milhões em 2025. Contudo, o número de pobres em estados frágeis não está caindo – uma confirmação tanto do número crescente de lugares pobres e instáveis como do seu rápido crescimento populacional. Este total tem permanecido estável no nível de 500 milhões de pessoas desde 1990 e, os autores acham, não mudará muito até 2025. Já a partir do ano que vem, o número de pobres em lugares às vezes denominados de FRACAS (estados frágeis e afetados por conflitos, na sigla em inglês) pode superar o número de pobres que moram em estados estáveis. Isso implicaria algo diferente em relação à visão de Sumner: ao invés de ser irrelevante para a redução da pobreza, o auxílio humanitário estrangeiro continuará a ser fundamental, uma vez que estados frágeis (diferentemente daqueles de renda média) não podem financiar programas de auxílio aos pobres e precisam eles mesmos de ajuda.
É possível que essas duas contas fechem? Vale ressaltar que há um grupo de países que tanto são de renda média como frágeis. Este grupo, às vezes chamados de MIFFS (estados de renda média frágeis ou falidos, na sigla em inglês), inclui Iraque, Nigéria, Paquistão e Iêmen – todos países grandes e populosos. Em 2011, Geoffrey Gertz e Laurence Chandy, também do Brookings, calcularam que quase um quinto das pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia são cidadãos de MIFFS. De modo que há quase 200 milhões de pessoas pobres em países de renda-média frágeis, os quais aparecem nas contas tanto de Sumner como de Kharas e Rogerson. Devido a essa sobreposição, é possível argumentar que ambos têm certa razão e só estão usando categorias diferentes.
Se Kharas e Rogerson estiverem corretos, os doadores de auxílio humanitário precisam se concentrar nos governos e tentar transformar os países frágeis em estáveis – uma tarefa hercúlea. Se Sunmer estiver correto, o papel dos doadores deveria provavelmente ser o de trabalhar ao lado dos governos locais de países de renda média para garantir que os benefícios advindos dos gastos públicos estejam sendo distribuídos de maneira equitativa para os pobres, aonde quer que eles estejam.
Fontes: The Economist – The geography of poverty. Tradução do blog opiniaoenoticia.com.br
Agora o argumento de Sumner enfrenta um desafio. De acordo com Homi Kharas da Brookings Institution e Andrew Rogerson de Instituto de Desenvolvimento Estrangeiro da Grã-Bretanha, “em 2025, a maior parte da pobreza absoluta mais uma vez se concentrará em países de renda baixa”. Eles afirmam que, à medida que os países de renda média continuem a progredir contra a pobreza, a incidência desta diminuirá nestes países. Todavia, o número de pessoas pobres está aumentando em estados “frágeis”, os quais são definidos pelos autores do estudo como países que não podem atender às expectativas de suas populações ou administrá-las através do processo político (o que soa como algumas nações europeias). O padrão que Sumner descreve, afirmam, se trata de uma fase passageira.
Kharas e Rogerson calculam que o número de pobres em estados “não frágeis” caiu de quase 2 bilhões em 1990 para cerca de 500 milhões hoje em dia; eles acham que esse número continuará a cair para cerca de 200 milhões em 2025. Contudo, o número de pobres em estados frágeis não está caindo – uma confirmação tanto do número crescente de lugares pobres e instáveis como do seu rápido crescimento populacional. Este total tem permanecido estável no nível de 500 milhões de pessoas desde 1990 e, os autores acham, não mudará muito até 2025. Já a partir do ano que vem, o número de pobres em lugares às vezes denominados de FRACAS (estados frágeis e afetados por conflitos, na sigla em inglês) pode superar o número de pobres que moram em estados estáveis. Isso implicaria algo diferente em relação à visão de Sumner: ao invés de ser irrelevante para a redução da pobreza, o auxílio humanitário estrangeiro continuará a ser fundamental, uma vez que estados frágeis (diferentemente daqueles de renda média) não podem financiar programas de auxílio aos pobres e precisam eles mesmos de ajuda.
É possível que essas duas contas fechem? Vale ressaltar que há um grupo de países que tanto são de renda média como frágeis. Este grupo, às vezes chamados de MIFFS (estados de renda média frágeis ou falidos, na sigla em inglês), inclui Iraque, Nigéria, Paquistão e Iêmen – todos países grandes e populosos. Em 2011, Geoffrey Gertz e Laurence Chandy, também do Brookings, calcularam que quase um quinto das pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia são cidadãos de MIFFS. De modo que há quase 200 milhões de pessoas pobres em países de renda-média frágeis, os quais aparecem nas contas tanto de Sumner como de Kharas e Rogerson. Devido a essa sobreposição, é possível argumentar que ambos têm certa razão e só estão usando categorias diferentes.
Se Kharas e Rogerson estiverem corretos, os doadores de auxílio humanitário precisam se concentrar nos governos e tentar transformar os países frágeis em estáveis – uma tarefa hercúlea. Se Sunmer estiver correto, o papel dos doadores deveria provavelmente ser o de trabalhar ao lado dos governos locais de países de renda média para garantir que os benefícios advindos dos gastos públicos estejam sendo distribuídos de maneira equitativa para os pobres, aonde quer que eles estejam.
Fontes: The Economist – The geography of poverty. Tradução do blog opiniaoenoticia.com.br
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