sábado, 22 de setembro de 2012

Hortas urbanas garantem alimentação em cidades da África, revela estudo da FAO

Hortas urbanas garantem alimentação em cidades da África, revela estudo da FAO


 (FAO/Olivier Asselin)
Os formuladores de políticas nas cidades africanas devem implementar medidas verdes para garantir que as crescentes áreas urbanas possam atender o aumento na demanda por  alimentos, afirma o relatório Cultivando cidades mais verdes na África, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
“Gestores africanos precisam agir agora para reorientar a urbanização de seu corrente modo insustentável para cidades mais saudáveis e verdes que garantam a segurança alimentar e nutricional, o trabalho decente e a renda e um ambiente limpo para todos os seus cidadãos”, observou o Diretor-Geral Assistente da FAO para Agricultura e Defesa do Consumidor, Modibo Traoré, no prefácio da publicação.
O livro salienta a importância de práticas sustentáveis, como horticultura urbana, referindo-se aos jardins em casas, escolas, comunidades e mercados que produzem frutas e vegetais. O relatório, que se baseia em estudos de caso de 31 países da África, descobriu que a horticultura urbana em 10 países já é a mais importante fonte produzida localmente de produtos frescos. Mas esta prática tem crescido com pouco reconhecimento oficial, regulação e apoio, e, em muitos casos, tornou-se insustentável à medida que os agricultores estão aumentando o uso de pesticidas e água poluída.
Para resolver esta questão, a publicação insta os governos e as administrações municipais a trabalharem em conjunto com os produtores, processadores, fornecedores, vendedores e outros para dar à agricultura urbana o apoio político, logístico e pedagógico necessário para o desenvolvimento sustentável.
Uma das recomendações do relatório aconselha os políticos a realizarem um zoneamento e proteger a terra e água para horticulturas, além de  incentivar os produtores a adotar um modelo de agricultura que vai aumentar a produção preservando os recursos naturais, aplicando a quantidade certa de pesticidas, sementes e fertilizantes.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Autoridades da América Latina e Caribe aprovam plano da CEPAL sobre desenvolvimento integrado

A velha e boa CEPAL...

Autoridades da América Latina e Caribe aprovam plano da CEPAL sobre desenvolvimento integrado



Secretária Executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, apresentando o documento para uma mudança estrutural da região. (CEPAL / Mario Pascassio)
Autoridades e especialistas destacaram a pertinência, no atual momento da crise econômica global, da proposta de mudança estrutural para a igualdade que a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) está oferecendo à região, no marco do seu trigésimo quarto período de sessões, que se realiza desde segunda-feira (27) e encerrou hoje (31) as atividades em El Salvador.
Na quarta jornada da reunião bienal mais importante da CEPAL, a Secretária-Executiva do organismo, Alicia Bárcena, apresentou as principais propostas do último documento institucional denominado Mudança estrutural para a igualdade: Uma visão integrada do desenvolvimento, que traça um caminho concreto para o crescimento com igualdade e sustentabilidade ambiental nos países da América Latina e do Caribe.
“A mudança estrutural virtuosa é uma transformação qualitativa da estrutura produtiva que impulsiona e fortalece setores e atividades mais intensivos em conhecimento e de rápido crescimento da demanda para gerar mais e melhores empregos: a chave mestra para alcançar a igualdade”, explicou Bárcena, durante uma sessão presidida pelo Ministro das Relações Exteriores de El Salvador, Hugo Martínez, onde também participou o Vice-Secretário-Executivo Adjunto da CEPAL, o brasileiro Antonio Prado.
Bárcena expôs no marco de um Seminário de Alto Nível sobre mudança estrutural, onde participaram Ministros das Relações Exteriores, Fazenda, Economia, Comércio, Indústria, Planejamento, Desenvolvimento Social e Meio Ambiente da região, entre outras autoridades que fazem parte das delegações dos 52 Estados membros e associados da CEPAL. Também assistiram funcionários do Sistema das Nações Unidas, acadêmicos e representantes da sociedade civil.
Nas quatro mesas programadas debateram-se temas como a mudança estrutural, a produtividade e o emprego, a dinâmica do ciclo econômico e o crescimento de longo plazo, o aspecto social da mudança estrutural e uma visão integrada de políticas para o desenvolvimento, incluindo a sustentabilidade ambiental.
João Carlos Ferraz, Vice-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES), destacou que a proposta da CEPAL “tem uma forte repercussão nos processos em curso na região e esta repercussão, sob um forte marco analítico, pode ter implicações na política pública com propriedade e não no vazio”. “A CEPAL, hoje, nos oferece uma leitura adequada de nossas forças e debilidades”.

Modelo censitário brasileiro é reaplicado em São Tomé e Príncipe

Finalmente, algo que o Brasil tem alguma excelência...

Modelo censitário brasileiro é reaplicado em São Tomé e Príncipe

O Censo Demográfico de 2010, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi o primeiro totalmente informatizado do mundo e, por isso, está sendo utilizado no IV Recenseamento Geral da População e da Habitação do país africano de língua portuguesa.
A parceria entre os dois países começou em setembro de 2011, quando uma equipe técnica do IBGE visitou o país e deu início a organização dos procedimentos para a coleta de dados, que começou em maio deste ano.
Segundo a coordenadora operacional do Censo do IBGE, Maria Vilma Salles Garcia, o desafio foi o mapeamento do país, já que havia muitas dúvidas sobre as divisas das províncias. Além disso, a Carta Topográfica da região foi traçada em 1950 e não atendia à demarcação adequada das áreas de enumeração (área de trabalho de cada recenseador). Com o suporte de imagens de satélite de alta resolução, foi possível mapear o território por completo e demarcar todas  as divisas distritais do país.
A coordenadora aponta, ainda, que os distritos são, basicamente, aglomerados de casas, diferentes do traçado urbano típico do Brasil, com ruas e quadras delimitadas. A equipe utilizou registros do Ministério da Saúde de São Tomé e Príncipe para obter informações sobre as casas e seus moradores.  Foram mapeadas 344 áreas de numeração, todas com perímetro definido, código e estimativa de domicílios.
Nas duas missões que antecederam a realização do recenseamento, o IBGE reuniu e orientou os profissionais locais, identificando coordenadores e supervisores das equipes técnicas e gerenciais para a coleta de dados. O Instituto também foi responsável pela elaboração dos questionários a serem aplicados e, ainda, consolidou o sistema gerencial de acompanhamento da coleta, consolidação e transmissão de dados.
O IBGE organizou a logística, inclusive a de suporte à informática; apoiou o projeto de formação das equipes, desde a elaboração do material instrucional até o preparo dos futuros recenseadores para a realização das entrevistas e uso dos aparelhos PDA (Personal Digital Assistant).
O Acordo de Cooperação Científica e Técnica entre os governos do Brasil e de São Tomé e Príncipe, sob a coordenação da Agência Brasileira de Cooperação, recebeu apoio do Ministério das Relações Exteriores, especialmente da Embaixada do Brasil, além do apoio técnico do IBGE, com recursos financeiros do fundo das Nações Unidas para a População – FNUAP; do Japão, do Banco Africano de Desenvolvimento e do governo santomense.
Fonte: Portal Brasil

terça-feira, 18 de setembro de 2012

KEN - Isolinhas

Salve Pessoal do Kennedy. Segue abaixo os tipos de isolinhas. Escolha seu tipo favorito e faça um mapa.

Curvas de Nível:
Mapa altimétrico de Brasília (DF), com o Lago Paranoá.
Batimetria (profundidade) do mar do litoral das Regiões Sul e Sudeste do Brasil.



Mapa hipsométrico de um lugar hipotético, onde o Rio X é a região mais baixa, e os morros a 1100m de altitude são as áreas mais baixas.

Mesmo mapa hipsométrico de cima, só que, ao invés de apenas isolinhas, temos também cores.
Isotermas:
Mapa de Isotermas da Região Centro-Oeste do Brasil - no mapa vemos que as temperaturas vão de 18°C até mais de 36°C.

Isotermas do mundo.
Isobaras:
Isobaras (em milibars) mostrando a pressão atmosférica na Europa Ocidental.
Isoietas:
Isoietas da Região Centro-Oeste do Brasil - de 1250mm a 2750mm.

Isoietas do Rio Grande do Sul - de menos de 1250mm a mais de 2250.

Isoietas de Tocantins: de 1200mm a 2100mm.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

KEN - Área Urbana do Município de São Paulo

Olá pessoal do Kennedy.
Na matéria sobre convenções cartográficas, pedi o mapa da área urbanizada do município de São Paulo.

Segue então o modelo e os 3 exemplos.

Modelo: Mapa-base do Município de São Paulo.


Área Urbana do Muncípio de São Paulo - em vermelho.

 
Área Urbana do Muncípio de São Paulo - em cinza.
Área Urbana do Muncípio de São Paulo - em hachuras.


KEN - Mapas dos Hemisférios

Eis os mapas-mundi com os 4 tipos de hemiisférios.

Modelo de mapa-mundi a ser trabalhado.




Exemplo 1: mapa-mundi com a Linha do Equador em Vermelho, o Hemisfério Norte em uma cor e o Hemisfério Sul em outra.

Exemplo 2: mapa-mundi com o Meridiano de Greenwich em Vermelho, o Hemisfério Oriental em uma cor e o Hemisfério Ocidental em outra.

Exemplo 3: um mapa-mundi dividido em 4 quadrantes: Quadrante Noroeste, Quadrante Nordeste, Quadrante Sudeste e Quadrante Sudoeste. Esse mapa é apenas um exemplo e não precisa ser feito.

Empresa brasileira vai ajudar a mapear o universo

Uma notícia muito legal, sobre um projeto muito legal que envolve uma empresa brasileira muito interessante. Logo, parabéns a todos os envolvidos...

Empresa brasileira vai ajudar a mapear o universo

Desenvolver soluções tecnológicas com reconhecimento internacional não é privilégio apenas das grandes empresas brasileiras. Um pequeno negócio localizado na Incubadora de Empresas de Araraquara (SP) foi incluído no projeto internacional J-PAS, voltado para a construção de uma nova unidade astronômica para o mapeamento do universo.
A Incubadora de Empresas de Araraquara, que tem o apoio do Sebrae em São Paulo, conta com 12 incubadas e mais dez associadas. Os empreendimentos recebem, além de espaço físico planejado, serviços especializados, orientação e consultoria, infraestrutura técnica, administrativa e operacional, além de uma série de benefícios como a intermediação com instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais e iniciativas privadas.
A Solunia Projetos e Automação Industrial, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), construirá a Unidade de Filtro e Diafragma (FSU – Filter Shutter Unit), responsável por filtrar espectros de luz e transformá-los em sinais elétricos para leitura em computadores.
Para se ter uma ideia da importância do projeto, as imagens possibilitarão aos pesquisadores descobrir novas estrelas, galáxias e objetos do sistema solar. O J-PAS é um consórcio internacional e engloba empresas de diversos países – Inglaterra, Estados Unidos, Espanha, Bélgica e Brasil – além de agências de financiamento e universidades. A unidade astronômica será operada pela fundação espanhola Centro de Estudos de Física de Aragon (CEFCA) e contará com uma equipe de mais de cem cientistas e engenheiros de vários países. O sistema começa a funcionar em 2013.
Carlos Eduardo Fermino e seu sócio, Daniel Schmidt Messi, criaram a Solunia há dois anos. Funcionário de grandes corporações, como a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), Fermino decidiu abrir o próprio negócio quando começou a ser procurado para desenvolver projetos paralelos de outras empresas. “Já tinha a intenção de me tornar empreendedor. A chance veio quando consegui clientes em potencial”.
Há um ano na Incubadora de Empresas de Araraquara, Fermino diz que tomou a decisão certa. “A grande vantagem da incubadora é que a informação circula constantemente e temos consultores que nos auxiliam nas dificuldades”, diz o empresário.
Diagnóstico
Segundo a gerente do Sebrae em Araraquara, Marimar Guidorzi, todas as empresas incubadas passaram este ano por um diagnóstico de identificação das necessidades de mercado. “Na incubadora, elas têm oportunidade de troca e a chance de tirar as ideias do papel e testá-las no mercado real”.
A instituição tem levado o conceito de inovação às empresas da região por meio de cursos, palestras e workshops. De maio até agora, 111 empreendimentos foram atendidos com soluções inovadoras, como o Sebrae Mais, Sebratec e outras ferramentas da instituição. Marimar diz que a meta até o final do ano é atender 200 empreendimentos.
Fonte: Exame

sábado, 15 de setembro de 2012

ONU revela que 22 milhões de crianças na América Latina correm risco de abandonar estudos

Vixe...

ONU revela que 22 milhões de crianças na América Latina correm risco de abandonar estudos



Segundo relatório da ONU, mais de 22 milhões de crianças e adolescentes da América Latina e Caribe não estão na escola ou estão próximos de largar os estudos
Um novo relatório da ONU afirmou que mais de 22 milhões de meninos, meninas e adolescentes na América Latina e Caribe não estão na escola ou muito próximos de abandonar os estudos. O documento pede esforços de todos os setores para assegurar que todas as crianças possam completar sua educação.
O relatório, intitulado Terminar a Escola, Um Direito para o Desenvolvimento das Crianças: um Esforço Conjunto, ressalta que existem 117 milhões de crianças e adolescentes na faixa etária de cursar a pré-escola e a educação básica. No entanto, 6,5 milhões não estão estudando. A pesquisa foi apresentada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
“A educação é a chave para enfrentar as desigualdades profundas em nossa região e, portanto, temos que trabalhar em todos os setores para que todos os meninos, meninas e adolescentes possam completar a sua escolaridade”, disse o Diretor Regional do UNICEF para a América Latina e o Caribe, Bernt Aasen.
O estudo avaliou que crianças e adolescentes oriundos de grupos indígenas, afrodescendentes, deficientes ou que vivem em regiões rurais têm um risco maior de exclusão ou de repetência. Nas áreas rurais de alguns países, menos de 50% de jovens da faixa etária relativa à escola básica estão estudando. Há também uma clara ligação entre o trabalho infantil e a presença escolar: estudantes entre 12 e 14 anos que trabalham demonstram menores taxas de presença do que os que não trabalham, completou o relatório.

A geografia da pobreza

Na última semana, nos segundos anos do MOCAM, discuti com veemência a questão da desigualdade social no mundo, analisando a diferença entre IDHs, Rendas per Capita e Longevidade. E, para aumentar o debate, segue o texto abaixo. Numa sentença: "estamos f0did0$".

A geografia da pobreza

Onde vivem as pessoas pobres do mundo? A resposta óbvia é: nos países pobres. No entanto, em uma série recente de artigos, Andy Sumner, do Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Grã-Bretanha, revelou que a resposta óbvia está errada. Ele constatou que quatro quintos daqueles que sobrevivem com menos de US$ 2 por dia moram em países de renda média com um PIB per capita entre US$ 1.000 e US$ 12.500, os quais não são pobres. Os seus achados refletem o fato de que um período longo de crescimento econômico desigual fez com que muitos países em desenvolvimento se tornassem países de renda média, ainda que uma parte menor de sua população tenha permanecido atolada na pobreza.  Uma vez que os países envolvidos incluem a China e a Índia, até mesmo uma minoria constitui uma quantidade grande de pessoas. Isso é importante porque os países de renda média têm recursos o suficiente para ajudar aos seus pobres. Se a maior parte da questão da pobreza se limita às suas fronteiras, então a ajuda humanitária estrangeira é menos relevante para a redução da pobreza. Um modo mais eficaz de ajudar seria tornar as políticas públicas dos países de renda média mais “pró-pobres”.
Agora o argumento de Sumner enfrenta um desafio. De acordo com Homi Kharas da Brookings Institution e Andrew Rogerson de Instituto de Desenvolvimento Estrangeiro da Grã-Bretanha, “em 2025, a maior parte da pobreza absoluta mais uma vez se concentrará em países de renda baixa”. Eles afirmam que, à medida que os países de renda média continuem a progredir contra a pobreza, a incidência desta diminuirá nestes países. Todavia, o número de pessoas pobres está aumentando em estados “frágeis”, os quais são definidos pelos autores do estudo como países que não podem atender às expectativas de suas populações ou administrá-las através do processo político (o que soa como algumas nações europeias). O padrão que Sumner descreve, afirmam, se trata de uma fase passageira.
Kharas e Rogerson calculam que o número de pobres em estados “não frágeis” caiu de quase 2 bilhões em 1990 para cerca de 500 milhões hoje em dia; eles acham que esse número continuará a cair para cerca de 200 milhões em 2025. Contudo, o número de pobres em estados frágeis não está caindo – uma confirmação tanto do número crescente de lugares pobres e instáveis como do seu rápido crescimento populacional. Este total tem permanecido estável no nível de 500 milhões de pessoas desde 1990 e, os autores acham, não mudará muito até 2025. Já a partir do ano que vem, o número de pobres em lugares às vezes denominados de FRACAS (estados frágeis e afetados por conflitos, na sigla em inglês) pode superar o número de pobres que moram em estados estáveis. Isso implicaria algo diferente em relação à visão de Sumner: ao invés de ser irrelevante para a redução da pobreza, o auxílio humanitário estrangeiro continuará a ser fundamental, uma vez que estados frágeis (diferentemente daqueles de renda média) não podem financiar programas de auxílio aos pobres e precisam eles mesmos de ajuda.
É possível que essas duas contas fechem? Vale ressaltar que há um grupo de países que tanto são de renda média como frágeis. Este grupo, às vezes chamados de MIFFS (estados de renda média frágeis ou falidos, na sigla em inglês), inclui Iraque, Nigéria, Paquistão e Iêmen – todos países grandes e populosos. Em 2011, Geoffrey Gertz e Laurence Chandy, também do Brookings, calcularam que quase um quinto das pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia são cidadãos de MIFFS. De modo que há quase 200 milhões de pessoas pobres em países de renda-média frágeis, os quais aparecem nas contas tanto de Sumner como de Kharas e Rogerson. Devido a essa sobreposição, é possível argumentar que ambos têm certa razão e só estão usando categorias diferentes.
Se Kharas e Rogerson estiverem corretos, os doadores de auxílio humanitário precisam se concentrar nos governos e tentar transformar os países frágeis em estáveis – uma tarefa hercúlea. Se Sunmer estiver correto, o papel dos doadores deveria provavelmente ser o de trabalhar ao lado dos governos locais de países de renda média para garantir que os benefícios advindos dos gastos públicos estejam sendo distribuídos de maneira equitativa para os pobres, aonde quer que eles estejam.
Fontes: The Economist – The geography of poverty. Tradução do blog opiniaoenoticia.com.br

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

KEN - Mapa dos Continentes

Salve pessoal!

Segue abaixo o mapa das divisões naturais do mundo. O mapa de cima, em branco, é o que vocês irão desenhar e colorir. O mapa abaixo é apenas uma sugestão de cor.

Não esqueça dos 4 itens essenciais do mapa:
- Título do mapa;
- Escala;
- Rosa-dos-ventos;
- Legenda (que, na sugestão de cor, aparece como as bolinhas coloridas seguidas do nome dos continentes correspondentes à cor).

Sugestão de cor.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Perseguida e punida: a verdade

"Esse é o programa Nojo Brasil! Aqui você entra, escarra à vontade, e gargalha pra valer!"...

Perseguida e punida: a verdade


A carreira jurídica é a mais importante do serviço público. Acima do médico, do professor ou do engenheiro está o advogado. Ele recebe os maiores salários e tem mais vantagens e privilégios do que os demais. O advogado em geral, o juiz em destaque.
A sociedade admite que julgar é a mais espinhosa das funções. Os magistrados precisam ter conhecimento, equilíbrio, ponderação, estado de espírito e suporte para decidir bem os litígios entre as partes que chegam às barras dos tribunais. Repositório da esperança e da crença social, a justiça, mesmo que tarde, não pode falhar. Se falhar, arrasta consigo o edifício mais nobre da construção humana: a democracia.
Mas e quando a justiça se transforma ela própria na autora das iniquidades? O que pode acontecer quando, ao invés de exercer a tutela arbitral e consolidar a imparcialidade estatal, passa a agir como se fora parte interessada?
Num estudo clássico de ciência política, Franz Neumann exibiu as marcas da parcialidade da justiça como uma das explicações mais consistentes para o surgimento, a ascensão e o triunfo do nazismo na Alemanha. O livro que dedicou aos julgados de Weimar, Behemoth, só pôde ser publicado nos Estados Unidos.
Foi lá que Neumann se refugiou, em 1936, para não se tornar mais uma dos milhões de vítimas de Adolf Hitler. A verdade foi limada do III Reich, o império dos mil anos, que, felizmente, só durou 12 anos (?).
Esse monumental trabalho nunca foi publicado em português. A época é oportuna para traduzi-lo. Pode vir a servir de inspiração e advertência para os rumos que a justiça vai tomando no Brasil.
Ao lado de exemplos dignificantes de uns tantos magistrados comprometidos com a causa e que se mostram à altura do tratamento especial dado no serviço público à carreira jurídica, pode-se perceber uma tendenciosidade sistemática do poder judiciário em algumas partes do país ou quando chamado a decidir determinadas questões estruturais.
A Amazônia é uma das regiões mais mal servidas pela justiça brasileira. Por amarga ironia, é também onde o poder judiciário altivo é mais necessário.
Diante de tantos conflitos, de tanto primitivismo e de uma violência de profundidade abissal, magistrados bem preparados, corajosos, independentes e honrados podem servir como a vanguarda civilizatória ou o anteparo à borrasca de selvageria que campeia nessa que é a maior fronteira nacional.
O contraste entre estruturas ultramodernas que são montadas em espaços bem delimitados do território amazônico para a extração, transporte e comercialização de suas riquezas naturais, e o universo de barbárie e primitivismo que se cria em torno desses "grandes projetos", é de assustar.
No entorno desses empreendimentos de bilhões de reais se sucedem problemas como trabalho escravo (mas escravo mesmo), destruição massiva e maciça da natureza, choques entre brancos e índios, apropriação ilícita de enormes extensões de terras (do tamanho de países), crimes de pistolagem e uma extensa agenda de anomalias.
Seu simples enunciado sugere que a Amazônia ainda vive uma era anterior às conquistas republicanas da revolução francesa. Ou seja: em 2012, a Amazônia não chegou a 1789.
Ainda assim, esse complexo painel de acontecimentos jamais será entendido através de esquemas explicativos simplistas, do bem e do mal, do bandido e do mocinho, do pobre e do rico. A convivência de um plano contemporâneo da história com uma dimensão arcaica é às vezes pacífica; em outros casos, tem intensidade conflituosa de autêntica guerra, com muitos danos e vítimas.
A má justiça, além de não servir de freio a esses abusos, funciona como fator de estímulo ao darwinismo social que resulta de uma lei de abrangência crescente: a lei do mais forte. O mais forte, que pratica as mais diversas formas de violência, aspira ao poder arbitrário, que se sustenta pela imposição de outra lei de vigência em expansão: a lei do silêncio.
Aqueles que buscam a verdade e tentam torná-la pública, tanto no universo diretamente interessado por esses acontecimentos como para auditórios mais amplos, no país e no exterior, estão sendo punidos por sentenças que ameaçam, dentre outras garantias constitucionais, a liberdade de informação, o direito de imprensa.
São cada vez mais frequentes as penas que a justiça aplica a jornalistas que se empenham em ser uma boa fonte de informações e de conhecimento sobre o drama amazônico, de interesse mundial.
Peço vênia ao distinto leitor para citar meu próprio caso. Jornalista profissional há 46 anos, acompanhei o regime militar desde 1966, quando se intensificou a escalada de repressão que iria levar ao AI-5 e seus desdobramentos nefandos dos anos de chumbo.
Nesse período fui processado uma única vez, pela temida Lei de Segurança Nacional — e fui absolvido pela Auditoria Militar de Belém. A partir de 1992, sete anos depois de restabelecida a normalidade democrática, que já é a mais duradoura da história republicana, fui processado 33 vezes e condenado em quatro processos. Em todos eles demonstrei que o conteúdo das minhas matérias jornalísticas era verdadeiro e tinha relevante interesse público. Mas não escapei das condenações.
Nenhuma das pessoas que me processaram exerceu o direito de defesa. Nenhuma delas contestou de público o que publiquei. Todos os 12 autores de ações estavam ligados a grupos de comunicação, grileiros de terras, extratores de madeira e magistrados a eles relacionados. O elo entre esses personagens dá aos seus propósitos as características de uma conspiração. Conspiração contra a verdade e pela imposição do silêncio que interessa a uma parte apenas do enredo: os poderosos.
Escrevo este artigo porque uma nova decisão da justiça do Pará foi dada contra mim, como se eu não tivesse argumentado exaustivamente através do recurso judicial agora negado. Como se estivesse em vigor outra lei, que só os poderosos podem usar: eu quero, eu faço, eu posso; os prejudicados que se lixem.
Através deste artigo, me lixo perante o destinatário da verdade: o cidadão brasileiro. É ele que paga a conta elevada da justiça. É quem pode exigir que ela seja elevada na contraprestação do serviço, que é ruim.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

David e Golias no sertão

David e Golias no sertão


Desde o dia 26 de julho estão suspensas as obras do maior investimento da Vale para este ano. A duplicação da ferrovia de Carajás deveria absorver 2,7 bilhões de reais no período. Esses recursos representam 20% do bilionário orçamento de investimentos da Vale para 2012. A mineradora é a maior empresa privada do Brasil e do continente, uma das 50 do mundo. Também é a maior exportadora do país. De cada 10 dólares depositados no caixa do Banco Central, US$ 2 resultam de vendas da ex-estatal.
A ferrovia tem 892 quilômetros de extensão. Vai da mina de Carajás, no Pará, ao porto de Ponta da Madeira, na ilha de São Luiz, a capital do Maranhão. Por ela trafega o maior tem de cargas do mundo. Com 400 vagões e quatro quilômetros de extensão, esse trem faz nove viagens diárias. Transportou no ano passado 130 milhões de toneladas, sendo 110 milhões de minério de ferro. Ao fim de cada dia, o minério que movimentou representa 30 milhões de dólares.
A Vale quer elevar esse volume para 230 milhões de toneladas. Para isso, tem que praticamente duplicar a linha. Os gastos com a ferrovia são os mais pesados desse projeto. Junto com a ampliação do porto, consumirão R$ 23,5 bilhões dos R$ 40 bilhões totais do empreendimento. Os outros R$ 16,5 bilhões serão aplicados na mina e na usina.
Em 2016 os trens serão maiores, a ferrovia não será mais singular, a produção atingirá um patamar recorde. Em três anos de implantação, será alcançada a meta estabelecida. Aos preços atuais, o faturamento em Carajás passará então de US$ 25 bilhões.
Prevê-se que essa seja a obra mais cara da segunda década deste século no Brasil. E das que maior faturamento — em moeda externa — proporcionará ao país. Carajás tem a maior jazida de alto teor do mundo de minério de ferro. Sua cotação está garantida, mesmo que haja variação em todo mercado siderúrgico internacional. Ninguém possui nada melhor.
No dia 26, porém, o juiz federal Ricardo Felipe Rodrigues Macieira mandou suspender as obras no Maranhão. No Pará, já foram realizados 30% dos serviços previstos. No Estado vizinho eles estavam começando. O juiz concedeu as medidas antecipadas de tutela requeridas em ação civil pública por três entidades: a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Centro de Cultura Negra do Maranhão.
A primeira surpresa vem da correlação de forças: como é que um único advogado, a serviço de ONGs de pequeno porte, conseguiu vencer a enorme assessoria jurídica da poderosa Vale?
Examinando o processo, alguém concluirá que não foi propriamente a consistência da petição inicial dos autores que levou o juiz federal a conceder a medida: em seu favor laborou com eficiência o outro réu na contenda, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Os que desejam parar a duplicação da ferrovia não fariam melhor do que ele.
Os representantes do Ibama reconheceram que o licenciamento da obra não seguiu o modelo completo, mas a forma simplificada. A Vale não precisou elaborar um EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto Ambiental). Ela foi autoridade a realizar apenas estudos simplificados e isolados, como se estivesse fazendo reformas e consertos na linha férrea.
É espantoso que tenha sido assim diante de uma empreitada que vai tornar ainda maior o impacto da ida e vinda de uma composição com quatro locomotivas e 400 vagões, que leva quatro minutos passando em determinado ponto. E que criará o maior corredor de escoamento de minério do planeta.
O Ibama disse que se permitiu esse procedimento com base no seu poder discricionário, como o órgão ambiental do governo federal, autorizado por lei a assim agir. E foi além: está fazendo licenciamentos parciais, que seguem, por isso mesmo, rotinas pulverizadas. Não há uma visão global da obra nem a possibilidade de vislumbrar o seu significado. É exposta por partes, retalhada.
Esse tipo de visão parece se basear num simplório senso comum: o eixo da ferrovia já existe e ela está em funcionamento desde 1985. Só que o impacto inicial de Carajás foi gradual até o final do século passado. Sobretudo depois de 2001, entrou num ritmo frenético, com a abertura do mercado chinês.
Hoje, a China compra 60% desse filé-mignon ferrífero. O Japão fica com 20%. Em apenas três anos, a nova etapa de Carajás (batizada de S11D) fará o que, antes, exigiu três vezes mais tempo. A obsessão pela velocidade levou a Vale a inovar na tecnologia de extração do minério: na nova mina, no lugar dos imensos caminhões carregados de minério, o transporte será feito por esteiras rolantes. É a primeira mina de ferro com essas características no mundo.
Essa busca pelo máximo parece ter impedido a Vale e o Ibama de atentarem para as pessoas que existem ao longo dos quase 900 quilômetros da ferrovia, em 20 municípios. Índios, descendentes de quilombolas, camponeses e outros personagens viraram abstração, que acabou por se materializar na ação e na sentença do juiz federal.
Só não se materializou na grande imprensa nacional. Quem percorrer os jornais e circular pelos canais de televisão deixará de assistir a essa atração do momento: a luta entre David e Golias nos sertões do Maranhão. Como o programa não tem patrocinador, a imprensa não lhe dá atenção.
A Vale, dentre outros títulos, é também a maior anunciante privada do Brasil. Isso conta. E muito. Por isso, a empresa não se deu ao trabalho de explicar-se ao distinto público. Sua explicação deve ter sido em petit comitê, como dizem eles, os brancos, que. assim, sempre se entendem.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

7000

Se me perguntassem como um site, focado em Geografia, oferecido a estudantes e com o título em grego (?!) iria alcançar mais de 7000 visualizações em apenas 7 meses, completados hoje, eu não saberia responder.

E como não sei responder, resta-me agradecer. Obrigado a todos e Feliz dia da independência! (Dia do quê?! Ah vá...)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Belo Monte: a suprema omissão

Belo Monte: a suprema omissão

A construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, é a maior obra em andamento no Brasil. Seu orçamento é de 26 bilhões de reais. A execução da obra começou em junho do ano passado e já consumiu R$ 5 bilhões. É mais do que dispõe a maioria dos Estados brasileiros em seus orçamentos anuais.
Em torno de Belo Monte acontece a maior medição de forças dos últimos anos entre os movimentos sociais, sob o patrocínio do Ministério Público Federal, e o governo federal, que considerou o projeto de interesse estratégico para o país, o incluiu no PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento e pretende executá-lo de qualquer maneira..
O contencioso, que tem todas as características de uma "causa célebre" (a cause cèlebre dos franceses), pode se tornar um marco na história do poder judiciário brasileiro. A querela começou em 2005, quando diversas ONGs, com o respaldo do MPF, ajuizaram no Supremo Tribunal Federal uma ação direta de inconstitucionalidade do decreto legislativo 788.
Esse decreto foi aprovado na Câmara e no Senado Federal e publicado no Diário Oficial de julho de 2005. Tramitou em regime de urgência pelas duas casas do legislativo. Autorizou o poder executivo a implantar o Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte, "depois de estudos de viabilidade técnica, econômica, ambiental e outros que julgar necessário". Dentre eles, estudos antropológicos sobre as comunidades indígenas afetadas.
Os órgãos do governo e da iniciativa privada envolvidos com a obra trataram de colocar a máquina de execução para funcionar. Mas as ONGS e a Procuradoria da República consideraram o decreto inconstitucional. Primeiro porque a consulta aos índios tinha que anteceder a autorização legislativa, tanto para simplesmente estudar a viabilidade da hidrelétrica como — e principalmente — para construí-la.
A autorização seria ainda inconstitucional porque a consulta aos índios tinha que ser feita diretamente pelo poder legislativo federal e não por delegação sua a outras instâncias, mesmo que oficiais. Além disso, a providência dependia de uma lei complementar para regular a matéria, apenas indicada no texto constitucional. Ela é que definiria a forma de indenizar, ressarcir e compensar os índios pelos danos sofridos.
Por 7 a 4, o STF rejeitou a ação de inconstitucionalidade. Mas ficou nas preliminares, sem examinar o mérito da questão, sobre a constitucionalidade do decreto legislativo. A maioria dos ministros simplesmente arguiu que o meio utilizado era incorreto: ao invés de uma ADI, os adversários de Belo Monte deviam ter proposto uma ação civil pública. O ato do Congresso não seria norma jurídica e sim um ato administrativo especial. Não envolvia, portanto, controle concentrado de constitucionalidade, que é a competência do Supremo.
No ano seguinte o MPF do Pará propôs a ação civil pública em Altamira, onde a usina está sendo construída. O primeiro juiz que apreciou o pedido o deferiu. Um segundo juiz o negou. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região restaurou a primeira decisão, mas a então presidente do STF, Ellen Gracie, reformou a decisão da justiça inferior.
Utilizando os recursos disponíveis, o MPF recolocou a questão sobre a apreciação do TRF-1 e sua quinta turma acolheu os embargos. Não apenas reconheceu a inconstitucionalidade da autorização legislativa como determinou a suspensão das obras e a anulação de todos os atos até então praticados ou autorizados em torno dela. A área na qual foram investidos os R$ 5 bilhões teria que voltar ao seu estado natural de antes.
A Advocacia Geral da União reclamou contra o acórdão do TRF para a presidência do STF no dia 23, quando foi cumprida a intimação para a paralisação da obra, decidida 10 dias antes. Em tramitação urgente, a matéria foi submetida à Procuradoria Geral da República, que opinou pelo não conhecimento da reclamação, indeferimento da liminar requerida e improcedência do pedido.
Mas o presidente Carlos Ayres de Britto deferiu a liminar, mandando sustar o efeito do acórdão, "sem prejuízo de u'a detida análise e do julgamento de mérito".
Podia-se apontar a contradição do presidente do STF: em 2005 ele foi um dos quatro votos vencidos pelo acolhimento da Ação Direta de Inconstitucionalidade. Sete anos depois, negou o recurso dos que continuam a apontar a violação das normas constitucionais. Por que a contradição?
Filigranas jurídicas à parte, pesaram na mudança da posição do ministro os argumentos por escrito da reclamação da AGU e as ponderações verbais de vários representantes do alto escalão do governo federal. Eles foram ao gabinete da maior autoridade do judiciário, que é um poder independente e autônomo, com números e argumentos sobre o significado prático do cumprimento da ordem da turma da justiça federal de segundo grau: desmobilização do canteiro de obras, demissão de milhares de pessoas, extinção de vários programas sociais, perda das realizações físicas, atraso mínimo de um ano no cronograma e, por fim, inviabilização do projeto.
Foi isso o que aconteceu entre o primeiro e o mais recente pronunciamento da mais alta corte de justiça do país em sete anos de muitos incidentes processuais nesse cabo-de-guerra forense: os fatos consumados. Mesmo que à revelia da lei maior, que é a constituição federal, a obra avançou — e célere.
Os construtores, autorizados pelos legisladores, fizeram o que seria competência exclusiva do Congresso Nacional: estabeleceram a controvérsia, através de todos os tipos de audiências: mediram as reações, pró e contra a obra, e, sentindo-se fortalecidos, criaram uma estrutura de R$ 5 bilhões na forma de máquinas, equipamentos, instalações físicas, 13 mil empregados diretos, milhares de outros dependentes e uma teia de negócios conexos. Um mundo real, difícil desfazer pelo mundo teórico das leis — drásticas, mas imateriais, compulsórias, mas intangíveis.
Essa confusão e esse desentendimento se consolidaram porque o Supremo Tribunal Federal, o guardião por excelência da Carta Magna, evitou cumprir a sua gloriosa missão, que é a base do regime democrático: definir de vez e com clareza se o ato é ou não constitucional.
Ao invés de examinar o mérito, se deteve em preliminares. E, quando forçado pelas circunstâncias a apresentar uma solução, adotou-a a título precário, em decisões isoladas (ou monocráticas) da presidência, em medidas liminares. Enquanto as obras daquela que pretende ser a terceira maior hidrelétrica do mundo avançam, o excelso STF se encolhe

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O som que importa

O som que importa



O rio Madeira é o maior e mais caudaloso de todos os afluentes do rio Amazonas, que forma a maior bacia hidrográfica do planeta. Na semana passada, a 5ª unidade geradora da hidrelétrica de Santo Antônio começou a operar em teste nesse rio. A usina, quando totalmente implantada, em 2015, terá 44 dessas máquinas. Poderá então produzir 3.150 megawatts de energia
Santo Antônio fica a apenas sete quilômetros de Porto Velho, a capital de Rondônia, onde está concentrado quase um terço dos seus 1,6 milhão de habitantes. Subindo o rio mais 130 quilômetros, na direção da fronteira com a Bolívia, também está em construção — com um cronograma ligeiramente mais atrasado — outra hidrelétrica do mesmo porte, a de Jirau.
Jirau e Santo Antônio, em conjunto, formarão, a partir da metade desta década, quando já estarão funcionando a plena carga, o terceiro maior polo de geração hidrelétrica do Brasil. Com potência de 6,5 mil megawatts, ficará abaixo apenas de Itaipu, no Paraná (14 mil MW), e Tucuruí, no Pará (8,2 mil MW). Para isso, absorverão investimento de mais de 30 bilhões de reais.
A atenção dada a esses empreendimentos pela opinião pública não corresponde à sua grandeza. Como acontece quase sempre quando o tema é a Amazônia, só em momentos de conflito e anormalidade é que a sociedade brasileira se interessa pelo que acontece na sua maior fronteira de recursos naturais. A rotina é de alheamento, quando não de ignorância mesmo.
Os brasileiros reagem epidermicamente se um estrangeiro manifesta interesse pela região. Uma vez cessado aquilo que se presume ser uma ameaça à soberania nacional, a Amazônia volta ao seu lugar, tão distante dos centros de decisão do país.
Não devia ser assim. Em vários pontos desse território, de tamanho equivalente ao da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, estão em curso verdadeiras epopeias. Aventuras com algumas das marcas da abertura de fronteiras no passado e a absorção de várias das novidades criadas pela inventividade humana contemporânea.
Para quem não segue o roteiro do dia a dia, pode se apresentar como surpresa a constatação de que, daqui a mais três anos, a Amazônia já estará fornecendo para o Brasil mais energia do que Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, apenas com os aproveitamentos de Santo Antônio e Jirau, no Madeira, e Tucuruí, no Tocantins (e há 30 outros em perspectiva). Se não for incluída a — cada vez mais problemática — metade paraguaia de Itaipu, a Amazônia estará transferindo o dobro da usina construída no extremo lado do país.
Com tanta grandeza envolvida, às vezes o detalhe falha. A empresa responsável por Santo Antônio diz no seu site que a hidrelétrica representará 4% de toda geração de energia do Brasil, mas abastecerá 40 milhões de pessoas. Jirau, que têm potência um pouco superior, movimentaria os mesmos números. É uma matemática indigesta: como 8% da energia fornecida atenderiam 80 milhões de pessoas, mais de um terço da população nacional?
Os números podem ser uma abstração, é claro. Mas há outras questões mais concretas para as quais não se conseguem respostas satisfatórias. Respostas que ajudariam a esclarecer e orientar o enorme desafio que é realizar grandes obras na Amazônia.
Para provocar o menor impacto à área de drenagem do rio Madeira, que chega a quase um milhão de quilômetros quadrados, a motorização das duas usinas foi concebida com turbinas bulbo. São turbinas que funcionam na horizontal, aproveitando o curso do rio, e não na vertical, como as grandes máquinas instaladas em Itaipu e Tucuruí.
Dessa maneira, não seria preciso formar reservatórios, inundando as margens do rio e afogando florestas, com a cadeia de efeitos negativos sobre o meio ambiente. As 88 turbinas de Santo Antônio e Jirau precisam de uma queda de 14 metros, três vezes inferior à de Tucuruí, que formou o segundo maior lago artificial do Brasil por causa do represamento do Tocantins, com três mil quilômetros quadrados de reservatório.
Mas essas máquinas funcionarão direito? Santo Antônio e Jirau serão as maiores hidrelétricas do mundo com turbinas bulbo, por usarem uma grande quantidade de máquinas de alta potência, enquanto as outras usinas em funcionamento têm poucas turbinas e de baixa potência.
Os construtores asseguram que tudo foi bem estudado e dará certo. Mas pelos problemas surgidos quando as primeiras máquinas entraram em funcionamento, tem-se a sensação de que há um componente de laboratório nesses mastodontes de concreto levantados sobre o leito de um rio monumental como o Madeira. Serão cobaias nesse novo capítulo da engenharia?
Outra sensação é ainda mais desconfortável: a pressa imposta ao ritmo das obras. Esse andamento acelerado não permite, nem mesmo à parte mais atenta e preparada da sociedade, acompanhar o que as empresas executam. Na época da ditadura, foi assim que Itaipu e Tucuruí foram construídas, entre os anos 1970 e 1980.
Mas agora estamos numa democracia — e a mais duradoura da história brasileira. O cronograma não devia ser mais espaçado? Melhor ainda: nenhum fato concreto seria criado antes da dissipação das dúvidas em relação à conveniência ou viabilidade do empreendimento.
Esses mastodontes de concreto, aço e bilhões de reais, a maior parte dos quais saindo dos cofres públicos, parecem ter sua própria lógica, indiferente ao que acontece em torno e além.
Pois se a atividade industrial está em queda e há excesso de oferta de energia, por que a pressa de fincar essas obras na difícil e complexa Amazônia, transferindo-a por milhares de quilômetros até os centros produtores, do outro lado do Brasil?
Parece que tudo que a musa canta e inspira cessa quando ecoa o tilintar do que mais importa: a moeda que sai pelas torneiras do tesouro nacional.