sexta-feira, 4 de maio de 2012

Barbárie e Cultura

Excelente texto (de um dos blogs que estão aqui indicados ao lado) que comenta o novo livro sobre a ditadura militar brasileira, instalada entre 1964 e 1985. Um bom panorama do horror que aquele imbecis impuseram ao nosso país e mais que um incentivo à abertura dos arquivos.



Três são as respostas mais aceitas (e não excludentes): o cozimento dos alimentos, os tabus sobre o sexo (e a proibição de certos tipos de incestos) e, não menos importante, um modo de tratar os corpos dos mortos (enterro, cremação...). Esses três seriam, se não as causas, os sintomas que o Homem saiu da mera condição natural e teria entrado no reino da cultura.
Entretanto, além de todos os outros crimes cometidos, que são flagrantemente contrários à Convenção de Genebra, como o crime inumano da tortura física e psicológica,  da qual o Brasil é signatário, o que já seria suficiente para que fossemos processados nas cortes internacionais,  a ditadura brasileira praticou, como política de Estado, a ocultação de corpos, o que criou a situação dos "desaparecidos".
Quem afirma a existência categórica do crime estatal de ocultação e vilipêndio de cadáver é Cláudio Guerra, delegado que herdou de Sergio Paranhos Fleury (um dos mais sádicos e cruéis serventes da ditadura) os seus comandados.
O livro de Cláudio Guerra trará novas e brutais revelações sobre o aparato de morte construído pelos nossos militares e nossa polícia. É um dos poucos "de dentro" a falar, a dar sua versão sobre o período mais horrendo de nossa história.
Trará novas e contundentes revelações, como a aproximação dos militares com o crime organizado, o atentado ao Riocentro (um atentado que deu errado, mas mataria dezenas ou mesmo centenas de pessoas que estavam num show do Dia do Trabalhador e seria posto na conta dos "terroristas de esquerda", para dificultar a abertura do regime. Matar centenas de pessoas para deixar a ditadura ainda mais longeva), e também, coisa pouco esclarecida, como empresários privados ajudaram nos crimes de Estado e, com isso, ganharam favores dos generais.
Dentre esses crimes está a queima de dez corpos em uma usina de açúcar fluminense. A ditadura torturou e matou barbaramente. A ditadura assassinou; a iniciativa privada ajudou na ocultação.
A usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, que já era beneficiária de armas da polícia para que seus jagunços dessem um "destino" aos sem-terras da região, foi utilizada para queimar dez corpos de pessoas torturadas e assassinadas. Em troca, a usina contou com linhas de crédito que lhe davam uma enorme vantagem sobre seus concorrentes.
Pode ser a oportunidade de iluminar, de discutirmos este enorme aparato de torturas, mortes e ocultação e vilipêndio de cadáveres, que o Estado brasileiro, e uma parte de seus empresários, construiu. Esquema este que atentou não só contra seus cidadãos, mas contra a humanidade e, talvez mais profundo ainda, contra a cultura, ao não permitir que parentes e amigos tivessem acesso aos corpos mortos pela repressão.
Afinal, uma das coisas que nos separa da pura animalidade é o modo que tratamos os corpos de nossos mortos.

3 comentários:

  1. Este comentário vai ser um pouco grande, desculpe o exagero, mas neste caso, acredito que o texto esteja equivocado em se tratando de uma parte super importante para entender tais acontecimentos.
    Acredito que exemplificar através de algumas situações do mundo animal, possa clarificar qual é o erro. Conhecem o leão? Sim,o grande e feroz rei dos "Animais". Aquele bichinho tão agressivo... Bem, sabe-se que apesar de o mesmo se deliciar com os prazeres da caça, um dia, torna-se melancólico. Isto mesmo! De acordo com cientistas: "Rebanhos de antílopes e zebras passam pela sua frente e ele não se perturba. Pode até conviver algum tempo com eles, em boa paz. Nesse momento tudo o que lhe interessa, é encontrar a leoa de seus sonhos..."
    Quando o felino assim se realiza, passa a vida ao lado dela, auxiliando no trato dos filhotes, já que quem domina é a própria...Além dessa dedicação, depois que acasalam, nenhuma outra leoa o atrai - é fiel até o fim da vida. Mesmo que sua esposa morra ou seja capturada, o leão não procura outra. A leoa viúva ou separada, fica solitária até morrer....podemos dizer que assim como os golfinhos, pinguins, o leão tem apenas One Love em sua vida.
    E as abelhas? Arrumam-se em castas ou se preferirem, classes, aquelas que não podem reproduzir são as operárias, as que servem, as rainhas, hãm...reproduzem, eos zangões, objetos de auxílio à essa reprodução, são gerados por ovos não fecundados....
    Ah claro, cada cafofo tem apenas 1 rainha! Para que disputar o poder não?
    Mas e os nossos mais próximos ancestrais? Abaixo segue um depoimentozinho sobre algumas atividades sentimentais dos babuínos relacionadas à morte:
    Parece provável que alguns símios e macacos compreendam realmente a morte. Uma comprovação é a reação de Washoe. Washoe era uma chimpanzé em cativeiro treinada na América na década de 1960 para aprender a linguagem dos sinais. Ela deu à luz um bebê que ficou doente e morreu em um hospital para animais. Quando seus treinadores voltaram, Washoe perguntou "Onde está bebê?". Eles responderam "Bebê acabou". Washoe entrou imediatamente em depressão profunda e sentou encolhida em um canto se recusando a se comunicar.
    Mesmo símios e macacos em liberdade dão sinais de tristeza quando um parente próximo morre. Um mãe babuína jovem que perde o bebê recém-nascido quase sempre carrega o corpo por volta de uma semana, afastando cuidadosamente moscas e arrumando-lhe o pêlo.
    A morte de um animal que vive em grupo pode causar mudanças profundas na organização do mesmo. Alguns indivíduos sobem uma etapa na hierarquia das responsabilidades ao preencher a lacuna deixada pelo animal morto, e outros perdem um valioso aliado.

    Mas afinal...nós é que somos humanos, e eles animais. Será que eles pensam assim também?

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  2. Lindo comentário. Lindo, preciso e dramaticamente verdadeito (e, pq não dizer, humano... rsrs).
    Parabéns pelo comentário e muito obrigado por tão valiosa contribuição e por tão valiosa atenção!

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  3. Obrigada, eu adoro o seu blog, não tem como não contribuir!
    Parabéns para você :)

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